Crônica de uma foto
Crônica imaginada como se escrita por Luis Fernando Verissimo
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Tem gente que sorri com os olhos, e pronto: já desarma a rotina, já vira poema. A menina da foto tem esse dom — de travar a realidade com um meio sorriso malandro, desses que parecem esconder um plano ou uma piada que só ela sabe. E, convenhamos, ela sabe. O olhar entrega.
Ao fundo, outra figura — talvez irmã, talvez amiga, talvez mãe — está alheia ao flagrante, viajando na própria paisagem mental. E é curioso como o contraste funciona: uma parece estar no mundo interno, profundo, enquanto a outra flutua no presente com a leveza de quem domina o instante.
A luz invade pela janela e toca o cabelo da menina como se o universo quisesse confirmar: “olha pra ela, é aqui que mora a graça.” E a graça, de fato, mora — entre a covinha discreta e a curva da sobrancelha levantada. Um tipo de arte rara, essa de rir por dentro e deixar escapar só um pouquinho.
Ela olha para a câmera, mas também olha pra vida. Do tipo que sabe que crescer é inevitável, mas perder a graça do agora... jamais. Tem algo de travessura e sabedoria ali. Um “eu sei mais do que você pensa” temperado com “mas vou fingir que não sei”.
E no meio de tanto caos que a gente vive, é bom saber que ainda existe gente que sabe sorrir assim — como quem diz: "tô aqui, e isso basta".
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